José Luís Peixoto, in Nenhum Olhar
terça-feira, outubro 23, 2007
(...) mais cedo ou mais tarde,
também tu, mulher que quis mais que tudo, morrerás, e tu, filho meu, morrerás. As nossas campas no cemitério serão por uns tempos cuidadas e visitadas por aqueles que deixámos, mas também esses morrerão um dia; e as nossas campas encher-se-ão de musgo e de ervas, e alguém que passe por nós não parará, e mesmo esses que deixámos não serão recordados por ninguém, pois tudo o que amaram morreu; e esta casa que foi importante para nós terá desaparecido, crescerá talvez um sobreiro no seu lugar, e o cemitério onde estaremos será arrasado, e alguém que nunca conheceremos lavrará essa terra em que nos transformámos, e esse alguém que não se lembrará de nós lavrará a terra pensando talvez nos seus filhos e sonhando e esquecendo-se de que também ele morrerá e se tornará terra e também os seus filhos pequenos e também os filhos por nascer dos seus filhos.
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