domingo, agosto 13, 2006

Tens a vida cansada.

As rugas denunciam o trabalho que sempre tiveste. Organizaste, trabalhaste, criaste, amaste. Dedicada, sempre viveste para os outros. Nunca te vi preocupares-te contigo.

Hoje, quando te vejo, receio que possa não te ver mais.
Estás bem, de saúde. Mas comes muito mal. Diz o médico que, se de repente te acontece alguma coisa, o teu corpo, certamente, não resistirá. Diz também que temos de cuidar de ti. Estás a ficar esquecida. Pode, de repente, um esquecimento teu ser perigoso.

Mas, tu continuas a tomar conta dos teus. Não sei como fizeste para manter quase todos os que carregaste no ventre demasiado perto de ti. Eu acuso-te. Julgo que em parte a culpa foi tua. Deste-lhes sempre demasiado mimo. E continuas, como se fosses imortal.

Gosto de te ver, de ouvir as tuas histórias. De quando em férias ias tomar banho ao mar logo de madrugada, quando a praia ainda estava vazia. Do trabalho do campo, de sol a sol. De como conduziste o teu lar.
Sempre tiveste uma força e uma energia invejáveis!

Tens a vida cansada. As rugas denunciam muito trabalho. Por um lado tenho pena que nunca tenhas usufruído mais do que te rodeia.
Mas, afinal, não sei mesmo se não usufruíste.
A vida tem formas de felicidade só acessíveis aos mais incautos.


Gosto de te ver, avó!



2 comentários:

Anónimo disse...

Velhice
Olhar distante,
Partem de olhos cansados.
Pele flácida e enrugada;
Cabelos prateados
Cor de lua no sereno;
Que numa pétala de rosa;
Formou-se
Em plena madrugada

Idoso, idosa
Em teu seio
Há tanta sabedoria,
Que à reflexão chama
Para galopar nas artérias
De uma velha matrona,
Ou de um velho
Rosto de sol curtido,
Numa expressão séria.

Aos anciões, e as anciãs;
Não há nada que os impeça;
De demonstrar a eterna alegria
De menino e menina
Desenhando sorriso nos lábios
E um franzido na testa.

Oh Velhice! Oh experiência!
Tão desprestigiadas,
Em ti oh idoso!
Por aqueles que não sabem
Que trazes consigo,
Amor e muita bonança
Junto com a fé e os valores
Condutores de tua esperança.

Mas, não desanimes!
Idoso e idosa;
Velhos heróis da vida
Que trazem consigo
Voz doce e mansa,
Que brota na garganta
Soando a beleza interior
Que, a todos encanta.

Benditos sejam!
Velhos e velhas,
Por terem já tantas
Paisagens percorridas;
Durante a vivência,
Que os fazem
Catedráticos de vida,
Por excelência.

(Anónimo)

Aos nossos avós

ita disse...

"Catedráticos de vida,
Por excelência."
:)