Sempre que vou a um lar sinto-me incomodada. Humanamente incomodada. Incomodada porque me parece que toda aquela gente está para ali à espera da morte. As visitas que recebem são, na maioria dos casos, rápidas, de quem não quer permanecer muito tempo, talvez para não ter de pensar sobre o que vê ou o que sente num local assim. Demorar pouco é mais confortável: dá menos tempo para interiorizar o que está ao redor.
Observo os idosos. Olham... uns para a televisão, outros há que parecem olhar o vazio. Talvez pensem na vida, no que já foram. Talvez se alimentem de memórias.
Mas fico incomodada ao olhar aquelas pessoas que já foram muito, que já tiveram vidas cheias. Agora parecem vazias, sem objectivos para o futuro. Sem futuro.
A sensação é desconcertante. Actualmente prolongamos a vida: a medicina assim o possibilita. Contudo, a partir de certa altura, a vida degrada-se necessariamente. E é sempre difícil lidar com este facto. Creio, contudo, que deve haver muito a fazer para melhorar a vida dos que se aproximam, pelo menos de forma aparente, mais rapidamente do fim.
Ontem, apesar de tudo isto, ao visitar um familiar, numa destas instituições, fiquei a sorrir. No lar que visitei há uma idosa que apresenta alguns problemas mentais. No entanto, indo eu àquele local já há alguns anos, pude sorrir ao observar que a Z continua igual a quando eu a conheci. Sempre bem disposta, sempre simpática, sempre igual.
Ao contrário dela, a maioria dos outros idosos estão mais velhos, mais degradados, menos vivos.
Porque continuará a Z igual?
Será porque não pensa tanto na vida?
Fiquei a pensar. Não sei o motivo real. Mas fez-me sorrir.
O que será na verdade a loucura?
O que separa, afinal, a loucura da sanidade mental?
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2 comentários:
A atitude.
Não sei se a atitude explica tudo.
Mas eu também prefiro acreditar que, no mínimo, determina a maioria.
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