O que é detestável é quando o sistema é tão ranhoso que basta um cidadão ficar imóvel sinco míseros segundos para mergulhar numa escuridão preta e medonha. Vendo-se assim, ou melhor, deixando de se ver assim, a pessoa é então obrigada a esbracejar para reencontrar a luz. E não bastando o ridículo da situação, às vezes não chega um movimento qualquer. A pessoa no escuro agita os braços uma vez, agita duas, três. E nada. Nervosa, principia então aquilo que, visto ao longe ou fora do enquadramento, pode parecer um estranho ritual. Salta para a frente e para trás, abana a cabeça, levanta o braço esquerdo, depois o direito, e quando dá por ela até a língua está metida no assunto, esticada para fora da boca, agitando-se para dar à luz. Não havia necessidade de sujeitar homens e mulheres com a sua dignidade a isto. Numa retrete pública o caso ganha contornos grotescos. Mas no patamar de um prédio pode ser o fim. Sobretudo quando, de repente, surge o respeitável vizinho de cima e, a sua presença imponente basta para acender as luzes que nenhum dos nossos saltos conseguiu despertar. O olhar que nos deita impossibilita qualquer explicação. Eis como umas estúpidas luzes podem, em segundos, dar cabo de uma imagem que levou anos a construir.
Sónia Morais Santos, in TimeOut Lisboa n.º 27 (2-8 Abril)
4 comentários:
principalmente quando temos mais ou menos metro e meio e estamos sempre fora do alcance do sensor :) !!!
hiii... essa foi "baixa"!
;)
desculpa mas não resisti :)
estás desculpado!
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