quinta-feira, julho 28, 2011

a nossa pátria são todas as crianças

Todas as crianças merecem um país amigo das crianças. E, sobre tudo o resto, é-lhes devido o direito a ser crianças. (...) E têm, ainda, o direito a pais de coração grande e de cabeça quente. Daqueles que fazem, pelo menos, uma asneira todos os dias sem a qual ninguém se torna amigo das crianças. E, muito menos, mãe ou pai.
E merecem, ainda, o direito a admirar os pais e os avós. Porque só quem admira se torna humilde. E só quem conhece a sua história, e se orgulha dela, conquista o direito a ter futuro.
Todas as crianças têm, finalmente, o direito a ingonhar, engonhar, a destrambulhar destrambelhar, a azucrinar e a chinfrinar. E a ser, até, estrambólicas e escaganifobéticas. Que são formas complicadas de falar da salvaguarda do direito de quem se engasga e de quem se engana, de quem exagera e se atrapalha, e de quem erra. Que só é possível quando se tem pais e avós, e muitos tios ligados nelas. Que, todos juntos, façam com que, venha de onde vier, cada criança nunca se perde no caminho para casa.
Todas as crianças têm o direito a um país amigo das crianças. Onde todas as pessoas, nem que seja aos bocadinhos, sejam atentas, serenas, sábias, bondosas e firmes para com elas. Um país onde todas as crianças se sintam filhas dos pais e sobrinhas de todos. Um país que não as idolatre nem endeuse, mas que as ame, simplesmente (que é tudo aquilo que quem repete que "o melhor do mundo são as crianças" raramente lhes dá). Porque, afinal, a nossa pátria são todas as crianças.
Eduardo Sá, in Pais & Filhos n. 246 (Julho 2011)

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