sábado, novembro 18, 2006

Num mundo ideal não haveria abortos.

Não os haveria, porque não haveria violações. Não os haveria, porque os casais, casados, unidos em união de facto, ou mesmo não unidos, poderiam sempre dar todo o seu amor aos seus futuros filhos, com meios mais ou menos abundantes, mas sempre os necessários.
Num mundo perfeito, não haveria filhos mal amados, nem crianças abandonadas.
Num mundo perfeito, não nos preocuparia poder ter filhos com deficiências, porque saberíamos que a sociedade nunca os discriminaria. E tudo estaria ao seu alcance, como está ao das crianças e dos adultos ditos “normais”.

Mas não vivemos num mundo perfeito. E muito menos vivemos num país perfeito. Há muitos abortos.
Legais... porque há violações. Legais... porque há pais que optam por não arriscar ter um filho com deficiências, com todas as limitações que o nosso mundinho lhe coloca.
E muitos clandestinos. Demasiados. Demasiados em condições sub-humanas.

Até certa altura da minha vida desconhecia o aborto perto de mim. Desconhecia a realidade. Depois, fiquei a conhecê-la. Fracamente. Mas o suficiente para perceber que as decisões são sufocantes e que as condições que envolvem um aborto podem ser demasiado cruéis.

Eu sou pela VIDA! É por isso que condeno, com todas as minhas células, a pena de morte (mas sobre isto falarei noutro post).

Mas não sei se tenho o direito de condenar quem tem, em circunstâncias muito específicas, de optar pela não vida.

Ao que tudo indica teremos de novo referendo. Ainda não é certo que vá votar neste referendo.
Votei no outro. Votei pelo mundo ideal.
Hoje sei melhor que não vivemos no mundo ideal.
Gostava de poder votar não. Votar pela vida acima de tudo. Mas creio que não posso...
Também gostava de poder votar sim. Mas não tenho a certeza de que a minha consciência o permita... Talvez venha a permitir... Não em nome da liberdade da mulher, porque o dom da vida é superior ao da liberdade. Mas em nome de um mal menor. Em nome da felicidade da mãe. Se tem mesmo de acontecer, então que não fechemos os olhos, que não sejamos hipócritas, e que permitamos que aconteça em condições de saúde.

Contudo, espero francamente que, quem de direito, crie condições para acompanhar estas mulheres. Que no antes as ajude a ponderar todas as opções disponíveis. E que no depois tudo seja facultado para que nada tenha de se repetir. E que todos trabalhemos para um país de mais informação e de mais formação.

A garganta tolda-se-me quando penso sobre este assunto... mas é este o mundo em que vivemos.
Não vale a pena fechar os olhos e fingir que é um mundo ideal.

4 comentários:

Anónimo disse...

Mas.. será que, se o aborto for legalizado, deixará de existir os abortos em condições sub-humanas??? ..Mais do que decidir se se deve legalizar ou não o aborto não se deveria estar a pensar no que fazer para que não se chegue a ter que tomar uma decisão dessas???.. Como por exemplo, eu não consigo perceber porque é que não se distribui preservativos gratuitamente nas escolas.. Não é por se ter protecção à mão que se vai decidir iniciar-se uma vida sexual ou não!..
Aprende-se com as cabeçadas.. mas.. e que cabeçada!!.. Não se pode ensinar de outra maneira???..

ita disse...

Daí a minha grande referência à formação e informação, que infelizmente ainda tanto falta. Mas também falta o acesso generalizado à contracepção. E também o apoio necessário a grávidas.
Eu neste momento estou em crer que este talvez tenha de ser um passo por onde teremos de passar. Liberalizar, ou legalizar, ou despenalizar, ou sei lá (nem compreendo as efectivas diferenças), para que daqui a uns anos se consiga verdadeiramente reduzir a ocorrência de abortos.
E não sei responder à tua primeira questão, fipa.

Anónimo disse...

Para se evitar o aborto haveria certamente muito que fazer e não só a distribuição de preservativos na escola. Exemplos: verdadeira protecção na maternidade e paternidade; verdadeira protecção na saúde como está consagrada na nossa Constituição; infantários e escolas gratuitas estatais com vagas e não depósitos de crianças como os que existem; além de um verdadeiro combate à fome; e ao desemprego. Sim porque a questão não se resume à exitencia ou não de preservativos nas escolas em quantidades industriais a verdadeira questão é a falta de condições sociais de toda a natureza mas nstes problemas os defenores do não nem param para pensar.

ita disse...

Também não diria tanto...

Mas, esta questão, como tantas outras, só reflecte o quanto em demasiadas matérias o nosso país é ainda tão medíocre.

Começo a ter a sensação que sucessivamente se "vai tapando o sol com a peneira".
As necessidades sociais, de educação, etc., etc., etc. não se colmatam (somente) com alterações de leis...