sábado, março 18, 2006

Uma luzinha vermelha


Se há um país em que os dias de nevoeiro têm um significado especial, esse país é Portugal.

Continuamos à espera que o Desejado, D. Sebastião, ou similar, trará a salvação a este jardim (e não será o Alberto João) à beira-mar plantado. (Não nos devemos esquecer que todo o português que se preze tem de se mostrar insatisfeito com o futuro e nostálgico com o passado... ou não fosse o fado o principal legado musical nacional – em luta renhida com o Quim Barreiros).

Mas não é, obviamente, de D. Sebastião que venho falar. Hoje pretendo comentar um dos maiores flagelos das estradas portuguesas – as luzes de nevoeiro.

Como é obvio não sou contra a sua existência, muito pelo contrário, uma vez que são um mecanismo algo,... digamos... bastante, ok... extremamente útil quando correctamente utilizadas.

Antes de mais, procuremos perceber a sua utilidade efectiva. A luz de nevoeiro consiste numa luz vermelha muito forte que está colocada na traseira esquerda dos carros, permitindo que, em dias de visibilidade reduzida (reforço: visibilidade reduzida), seja mais fácil verificar que existem veículos à nossa frente. Isto é um facto.

Agora vejamos o que se passa na cabeça de um português típico numa manhã de nevoeiro...

Acorda de manhã, vai à janela e vê que está um dia de nevoeiro
“MARIA... Toca a despachar que tá nevoeiro e o trânsito fica mais difícil...”

Depois dos afazeres matinais – a rapidinha tem de ficar para outra altura porque o trânsito não perdoa – o português mete-se ao volante do seu bólide... e sai de casa em direcção ao trabalho... É nestes dias que, efectivamente, o tuga põe em prática algo que aprendeu nas aulas de código – acender as luzes de nevoeiro...

É compreensível que a utilização desta funcionalidade origine um certo formigueiro nos dedos das mãos do nosso amigo... finalmente vai poder utilizar, justificadamente, a tão famosa luz de nevoeiro (vamos aqui esquecer aqueles tipos que, julgando-se heróis, conduzem sempre com as luzes de nevoeiro dianteiras acesas – que na prática de nada servem a não ser expressar algo do tipo – “Miúdas, cheguei! Reparem só como sou bom...”). No entanto, convenhamos que, tendo em conta o que pagamos pelos nossos carros, é um desperdício não utilizar todas as suas funcionalidades.

Agora vejamos o que diria Maria, caso fosse ela a condutora....
"Manel, acho que devia acender aquela luz vermelha,...ai, como se chama,.... Bom, não interessa. Sabes onde fica????" (Ita, desculpa, eu sei que tu sabes onde fica a luz de nevoeiro... ou então não....)

Mas, voltando ao que interessa. Temos o português a sair de casa com a luz de nevoeiro acesa.... Apanha a auto-estrada, via rápida ou estrada nacional (caminhos de cabras incluídos) sem esquecer que, como qualquer outro tuga, deverá conduzir o mais à esquerda possível...(o código não dizia à dir.... bom, não interessa).

Finalmente, é legitimo utilizar a luz de nevoeiro, e como é óbvio o português aproveita esta oportunidade ao máximo, pelo que apenas a desliga no momento em que chega ao seu destino, e isto caso o carro o obrigue porque, caso contrário, a luz permanecerá ligada durante os dias seguintes... O problema com esta atitude é que os coitados dos condutores que vêm atrás têm de gramar com aquela luz durante todo o trajecto, uma vez que a alternativa é: fechar os olhos... o que convenhamos não será o mais ajuizado...

E agora dizem vocês... “Mas este gajo tá parvo. Agora não quer que se acendam as luzes de nevoeiro!!!”...

Efectivamente o meu problema não é com as luzes de nevoeiro em si, mas sim com a forma como as usam... O português quando se apercebe de que existe um pouco de nevoeiro (e que geralmente não é mais que nuvens baixas que mal tocam o topo da Torre Vasco da Gama), acende imediatamente o conhecido vermelhão, não pensando minimamente se tal se justifica...

Ora convenhamos que, se vou a conduzir e, apesar de estar nevoeiro, consigo ver a uma distância suficientemente segura para evitar surpresas, não há necessidade alguma de acender a referida luz. Se eu consigo ver os outros carros a 200 metros, de certeza que os outros também me conseguem ver... Não é verdade?

Mas mais absurda é aquela situação em que estamos numa fila de trânsito e o gajo do carro da frente continua com a luz de nevoeiro acesa. É que se eu consigo ver a mãe dele a oferecer-se aos transeuntes 200 metros à frente, também consigo ver o carro dele 1 metro à frente do meu...

1 comentário:

Anónimo disse...

Cáustico.... mas divertido.